A crise financeira que castiga o mundo aos poucos chega ao Brasil. Mas existe um time de empresários e executivos que decidiu não deixar a peteca cair. Eles acreditam que a turbulência será mais amena no país e mostram aqui como estão enfrentando o problema.
Por Denise Ramiro
A
palavra crise em chinês é composta por dois ideogramas, um significa
perigo, o outro, oportunidade. À primeira vista, as duas situações
parecem antagônicas, mas ao se fazer uma análise mais cuidadosa da
questão, percebe-se que ambas caminham juntas. Toda crise leva à revisão
de conceitos e à busca de novos caminhos. E isso vale tanto para a
vida profissional quanto a pessoal. Alguém pode sinceramente dizer
que saiu igual de um relacionamento amoroso depois que ele termina?
Não, geralmente saímos fortalecidos e mais preparados para uma nova
experiência. No mundo dos negócios não é diferente. Esse pode ser
um bom jeito de encarar a turbulência financeira que colocou o mundo
em pânico, depois que uma onda de inadimplência no setor imobiliário
norte-americano, provocada por empréstimos bancários mal concedidos,
colocou em xeque um modelo econômico que, erroneamente, pregava a
idéia do dinheiro fácil e rápido.
Agora é enfrentar a realidade. A crise já está aí há seis meses e o tempo de se lamentar deve ficar para trás. É hora de reagir. Na recessão dos anos 80, o fundador da cadeia varejista Wal-Mart, Sam Walton, ao ser questionado sobre as providências que estava tomando para se proteger da crise, respondeu: “já deliberamos a respeito e resolvemos não participar”. No mês passado, um seminário realizado pela Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap) e o Grupo de Líderes Empresariais (Lide), que tem como presidente o empresário João Doria Jr., reuniu empresários e executivos de peso, unidos pelo mesmo espírito de luta que norteou Sam Walton. Na ocasião, a Abap lançou a campanha A gente anda, o Brasil anda, que traz um grande diferencial: a peça impressa e eletrônica está disponível, sem nenhum custo, para todas as empresas que quiserem passar uma mensagem positiva do seu negócio. “Fazemos isso porque temos consciência de que, apesar da crise estar na ordem do dia, há milhares de empresários neste país fazendo a sua parte, trabalhando determinadamente para superá-la, porque não conhecemos outro jeito de, com crise ou sem crise, construir um futuro promissor”, disse Dalton Pastore, presidente da Abap, durante o seminário Lide/Abap.
O otimismo do publicitário não tem nada a ver com uma atitude de tapar o sol com a peneira, mas de reagir à crise. Até porque, vários fundamentos da economia mostram que o Brasil está agora mais preparado para enfrentar uma crise. As contas externas estão em ordem, as reservas cambiais, com um bom saldo, o país está pouco endividado. Embora o Fundo Monetário Internacional (FMI) estime para 2009 uma queda de 2% no Produto Interno Bruto (PIB) dos países desenvolvidos - pior resultado desde a 2ª Guerra Mundial – a instituição estima um cenário melhor para os países emergentes, com uma previsão de crescimento da ordem de 3,3%. “O Brasil tem um mercado consumidor interno em expansão e um dos sistemas financeiros mais sadios do mundo”, afirma Rafael Paschoarelli, professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-SP).
O que Paschoarelli quer dizer com isso é que o Brasil depende menos das exportações e mais do mercado doméstico – beneficiado recentemente pelo aumento do poder aquisitivo da população - e conta com bancos capitalizados e grau de alavancagem baixo. Além disso, acrescenta o professor, ao contrário de outros países, o Estado brasileiro tem participação relevante na economia. “O governo pode fazer com que as empresas estatais gastem mais em momentos de crise como forma de manter a economia aquecida”, diz Paschoarelli.
Os empresários e executivos que participaram do seminário
Lide/Abap sabem da capacidade de reação do país. O presidente do Conselho
de Administração do Grupo Pão de Açúcar, Abílio Diniz, é um deles.
“Estou vendo o governo agir com muita maturidade, serenidade e acerto”,
observou o empresário durante o encontro. Ele pediu cautela aos líderes
empresariais na questão das demissões e passou a sua receita para
enfrentar o momento difícil. “Tenham confiança em nosso país, na capacidade
dos brasileiros e em nós mesmos”, disse para um público atento. A
serenidade de Diniz diante da crise tem razão de ser. Realmente, o
país vive um momento especial, com boa capacidade de atrair investimentos.
Esse ambiente favorável permitiu que a gráfica Plural, de Alphaville
(SP), desse sequência ao plano de expansão da sua capacidade produtiva,
iniciado em 2006, que a levou a assumir o posto de maior gráfica privada
da América do Sul. Este ano, a Plural vai abrir 385 vagas, totalizando
795 trabalhadores. Apesar disso, a Plural, uma joint-venture entre
o Grupo Folha, que edita o jornal Folha de S.Paulo, e a Quad Graphics
- maior gráfica das Américas, não está imune à crise. É claro que
a empresa sente os seus sinais. O segmento editorial, por exemplo,
reduziu seus pedidos, mas as demais áreas, comercial, de catálogos
e de livros didáticos mantiveram os investimentos. “Crises trazem
oportunidades”, acredita Carlos Jacomine, diretor geral da Plural.
Ele está falando da estratégia de crescimento da empresa que é discutida
quase que diariamente e resulta em boas condições de preço, qualidade,
prazo e tecnologia de ponta para os clientes.
Neste
ano, a Plural inaugura a Print School, cujo objetivo é a formação
de mão-de-obra na comunidade em que a empresa atua. “Vamos capacitar,
treinar e contratar os melhores profissionais de nossa região”, diz
o diretor geral da empresa. Para os clientes, a Plural criou uma plataforma
de novos serviços de soluções digitais de última geração, que dará
mais dinâmica ao processo de impressão.
Assim como Jacomine, vários empresários apostam que o Brasil pode
sair da crise mais rapidamente do que outros países. Presente no seminário
da Lide/Abap, o vice-presidente do Banco Itaú, Márcio Schettini, projetou
um aumento no volume de crédito de 16% para este ano. No mesmo evento,
o presidente da Unilever no Brasil, Kees Kruythoff, confirmou o investimento
de R$ 85 milhões na construção de uma nova fábrica de sabão em pó
no Nordeste, gerando 300 novos empregos diretos, e anunciou um volume
de investimento inédito em mídia este ano. Tudo aprovado no planejamento
estratégico da Unilever Brasil até 2012, devidamente aprovado pelo
mais alto nível da organização mundial. Na ocasião, Kruythoff citou
um estudo da Organization for Economic Cooperation and Development
(OECD), que mostra que os países desenvolvidos viverão uma recessão
e que os países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) terão uma
queda no crescimento. A boa notícia da pesquisa da OECD é que o Brasil
será o país que sofrerá o menor impacto da crise. Diante disso, só
resta aos brasileiros acreditar e continuar trabalhando duro.
Veja mais: Como
driblar a crise
Fonte: Revista Viva
(13/03/2009)